Eu gosto de passear em
um carrinho aventureiro chamado Gurgel. Um carro com mecânica de fusca e
algumas peças de outros carros. Para mim, não se torna grande coisa passear
nesse carro. Mas um dia quando estava em um grupo de oração, um rapaz me
abordou dizendo:
- Nossa, meu
sonho era ter um carro desses para passear, para ir à praia! Eu não encontro um
carro desses fácil! Pois é difícil de encontrar pra caramba! Você não o vende?
Quanto custa?
Eu disse que não
venderia. Eu disse que iria pintá-lo e reforma-lo e ficar comigo até que um dia
meus filhos andassem nesse carro. O Gurgel é valorizado muito por pessoas mais
antigas, que sabem o valor do carro e que se lembram dos seus tempos de mocidade.
Eu tinha algo em mãos, que para mim não tinha tanto valor, mas que era algo que
fazia parte do sonho de alguém! Ou seja, comecei a valorizar quando os outros
valorizavam.
Recordo-me de uma Missão
em Ocara em que eu fiquei cinco dias em uma comunidade com um Seminarista
Piamartino, visitando, pregando e ajudando nas celebrações no tempo da Semana
Santa. Quando chegou a noite, ele compartilhou comigo que antes de entrar para
Seminário ele ia para grupos de oração somente para namorar. Nessa brincadeira,
ele sentiu um forte chamado ao Sacerdócio. Ele pediu a Deus que antes de ser
Padre, queria conhecer uma moça e saber o que é amar de verdade. Tempos depois ele
conheceu uma mulher e a amou muito, mas sempre ficava um vazio no coração desse
jovem, ficava uma voz chamando ele. Eles terminaram o namoro e ele me
confidenciou que um dos problemas do namoro dele era que ele era muito
“crianção” - aqueles jovens que só crescem em altura, mas a cabeça é infantil.
Pois bem, quando terminamos de fazer um encontro para jovens, fomos para um
colégio fazer um encontro com as crianças. Eu fiquei na sala com as crianças e
algumas mães e ouvi um barulho de uma gaita, tentei animar as crianças e de
repente o Seminarista entrou na sala com roupa de palhaço tocando gaita,
animando e evangelizando as crianças de uma forma que eu fiquei espantado. Fiz
um grande amigo e esse encontro foi como os dois discípulos no caminho a Emaús.
Aquilo que nós temos,
pode parecer sem valor para nós. Mas para o outro tem valor sim. O dom que Deus
nos dá pode não ser grande coisa para nós, mas para Deus e para os outros é
valioso. Até quem limpa a Igreja todos os dias e arruma as cadeiras é um dom.
Por que há milhares de pessoas no mundo todo que dariam tudo para terem braços,
pernas e servirem ao Reino de Deus apenas limpando a Igreja. Não pense que na
Missa, Deus olha somente para o Padre, Ele olha também para aqueles que limpam
a Igreja e fazem trabalhos que nós não vemos. Sirva ao Reino de Deus com a
semente que Ele te dá, com o talento que Ele te deu, com o denário que Ele te
oferece. Pois você nunca saberá quando estará sendo observado pela forma que
fala, pela forma que anda e pela forma sincera e humilde que tu fazes as coisas
para Deus tão naturalmente como respirar. O teu pequeno dom, ou defeito, que aparentemente
pode ser um defeito, Deus pode converter em uma poderosa arma de evangelização.
Sirva ao Reino de Deus
com suas pequenas atitudes, que um dia tu salvarás alguém com um pequeno dom em
tuas mãos, um dom que só terá grande valor nas mãos de Deus.
Alexandre Trajano de Lima
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