quinta-feira, 23 de agosto de 2012





Trabalhei no setor da Fisioterapia do Esquadrão de Saúde (ES) da Base Aérea de Fortaleza por três anos, mais conhecido como o Hospital da Base. Éramos sete profissionais trabalhando no Setor, três oficiais médicas, três soldados e um cabo trabalhando no período de sete da manha ao meio dia e treze até às dezesseis horas. O horário mais movimentado era o da manha, pois os pacientes preferiam este horário. Um de nós chegava mais cedo na seção, preparava o gelo, ligava a máquina da parafina (liquido viscoso em que mergulhávamos um pedaço de pano para pôr no machucado), organizava os aparelhos, trocava o pano das camas, ligava o ar-condicionado, etc. As oficiais médicas eram muito rígidas com a organização, os cabos dos aparelhos deveriam estar devidamente enrolados nas caixinhas e separados por cores, as roupas de cama bem esticadas, sem dobras. Recebíamos muitos pacientes, militares da ativa, militares da reserva, dependentes de militares e pensionistas. Nos intervalos eu ficava do lado de fora observando as pessoas fora do hospital, tropas marchando, militares armados saindo de serviço, as viaturas passando, todos vivendo a sua rotina, mas que a qualquer momento poderiam procurar a fisioterapia para tratar dos seus machucados. Um dia soubemos que o Coronel, o comandante da base iria fazer fisioterapia no seu joelho, foi uma correria com a organização da seção, uniformes e cortes de cabelo impecáveis, pois ele era muito observador e qualquer coisa ele reclamava. No final das seções ele acabou elogiando o nosso trabalho e dedicação com os pacientes, quando ele terminou seu comando voltou para nos agradecer, eu não estava nesse dia, mas perguntou por mim: “Cadê o baixinho, o Trajano?”. Os pacientes gostavam muito da gente eles nos amavam, e quem chegava lá brabo da vida saía mansinho, bem mansinho. Eles traziam comida, comemorávamos aniversários, conversávamos sobre a vida deles, nos éramos como uma família. Alguns nem queriam terminar a fisioterapia pois achavam tão bom ficar, tão relaxante, eram tão bem cuidados, nós dávamos muita atenção a eles e nós nos sentíamos úteis e felizes com a nossa profissão.
A Igreja também é um hospital, é uma seção de fisioterapia, aqueles que estão na liderança que estão à frente são os médicos, os enfermeiros, os ajudantes que preparam a seção para a chegada dos pacientes. Todas as pessoas acabam se machucando um dia, e quando eles perceberem que a Igreja-Hospital é capaz de tratar e curar suas feridas eles irão procura-la. A dedicação, o empenho, a disciplina, a hierarquia e a amizade são muito importantes para o funcionamento da Igreja-Hospital. Todos os dias são adicionados pacientes na Igreja, tem os pacientes que estão fazendo as seções por muito tempo, tem alguns que recebem altas, mas acabam voltando de novo pois a dor do machucado aumenta. Temos que nos empenhar no tratamento das pessoas com carinho e dedicação, pois se um dia o Comandante Geral da Igreja vier para fazer as seções de fisioterapia Ele vai ficar muito feliz com o que ver e vai voltar para agradecer pois sabe que ali existe algo diferente, que não é encontrado em nenhum outro lugar da Base, que ali existe o amor.


Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médicos, e, sim os doentes (Lucas 5: 31).



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