Trabalhei no setor da Fisioterapia do Esquadrão de
Saúde (ES) da Base Aérea de Fortaleza por três anos, mais conhecido como o Hospital
da Base. Éramos sete profissionais trabalhando no Setor, três oficiais médicas,
três soldados e um cabo trabalhando no período de sete da manha ao meio dia e
treze até às dezesseis horas. O horário mais movimentado era o da manha, pois
os pacientes preferiam este horário. Um de nós chegava mais cedo na seção,
preparava o gelo, ligava a máquina da parafina (liquido viscoso em que mergulhávamos
um pedaço de pano para pôr no machucado), organizava os aparelhos, trocava o
pano das camas, ligava o ar-condicionado, etc. As oficiais médicas eram muito
rígidas com a organização, os cabos dos aparelhos deveriam estar devidamente
enrolados nas caixinhas e separados por cores, as roupas de cama bem esticadas,
sem dobras. Recebíamos muitos pacientes, militares da ativa, militares da
reserva, dependentes de militares e pensionistas. Nos intervalos eu ficava do
lado de fora observando as pessoas fora do hospital, tropas marchando, militares
armados saindo de serviço, as viaturas passando, todos vivendo a sua rotina,
mas que a qualquer momento poderiam procurar a fisioterapia para tratar dos
seus machucados. Um dia soubemos que o Coronel, o comandante da base iria fazer
fisioterapia no seu joelho, foi uma correria com a organização da seção,
uniformes e cortes de cabelo impecáveis, pois ele era muito observador e
qualquer coisa ele reclamava. No final das seções ele acabou elogiando o nosso
trabalho e dedicação com os pacientes, quando ele terminou seu comando voltou
para nos agradecer, eu não estava nesse dia, mas perguntou por mim: “Cadê o
baixinho, o Trajano?”. Os pacientes gostavam muito da gente eles nos amavam, e quem
chegava lá brabo da vida saía mansinho, bem mansinho. Eles traziam comida, comemorávamos
aniversários, conversávamos sobre a vida deles, nos éramos como uma família.
Alguns nem queriam terminar a fisioterapia pois achavam tão bom ficar, tão
relaxante, eram tão bem cuidados, nós dávamos muita atenção a eles e nós nos
sentíamos úteis e felizes com a nossa profissão.
A Igreja também é um hospital, é uma seção de
fisioterapia, aqueles que estão na liderança que estão à frente são os médicos,
os enfermeiros, os ajudantes que preparam a seção para a chegada dos pacientes.
Todas as pessoas acabam se machucando um dia, e quando eles perceberem que a
Igreja-Hospital é capaz de tratar e curar suas feridas eles irão procura-la. A
dedicação, o empenho, a disciplina, a hierarquia e a amizade são muito
importantes para o funcionamento da Igreja-Hospital. Todos os dias são
adicionados pacientes na Igreja, tem os pacientes que estão fazendo as seções por
muito tempo, tem alguns que recebem altas, mas acabam voltando de novo pois a
dor do machucado aumenta. Temos que nos empenhar no tratamento das pessoas com
carinho e dedicação, pois se um dia o Comandante Geral da Igreja vier para
fazer as seções de fisioterapia Ele vai ficar muito feliz com o que ver e vai
voltar para agradecer pois sabe que ali existe algo diferente, que não é
encontrado em nenhum outro lugar da Base, que ali existe o amor.
Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não
precisam de médicos, e, sim os doentes (Lucas 5: 31).
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